Estévia
Na época da colonização da América do Sul pelos espanhóis e portugueses, nas imediações do território paraguaio e regiões circunvizinhas, como Brasil, Argentina e Bolívia, habitavam os índios nativos tupi-guaranís. Estes indígenas constituíam um população ao redor de 400 mil indivíduos. Integrados à floresta e cultivando plantas especiais que utilizavam como remédios e alimentos. Os índios da América demonstraram o valor de plantas como a mandioca, a batata-doce, o algodão, o milho, a baunilha, o mate e muitas outras que hoje são universalmente conhecidas e cultivadas. Descobriram e ensinaram também sobre as propriedades da coca, da vanila, da quina, da salsaparrilha e dezenas de outras espécies medicinais.
Uma pequena planta, chamada de Kaá-Hê-ê, que em guarani significa erva-doce, era muito utilizada pelos índios para adoçar diversas preparações medicinais, já que suas folhas apresentavam propriedade extremamente doce. Embora conhecida dos índios e documentada pelos conquistadores espanhóis conforme documentos mantidos pelo Arquivo Nacional de Assunção, somente em 1887, esta planta teve sua primeira abordagem científica dada pelo naturalista Moisés Bertoni. A partir de uma pequena amostra e alguns fragmentos de inflorescência o pesquisador determinou que a planta tinha certas características do gênero Stevia ou Eupatorium. Parte do material analisado foi enviado ao químico paraguaio, Ovídio Rebaudi, que realizou os primeiros ensaios químicos sobre a planta, publicados em 1900, na revista argentina Química e Farmácia. Numa homenagem ao pesquisador, Bertoni havia denominado a planta de Eupatorium rebaudiana. Em 1905, após estudos botânicos mais aprofundados, Bertoni comprovou que se tratava realmente de uma Eupatoriae porém do gênero Stevia e assim denominou-a de Stevia rebaudiana. Mais tarde a Sociedade Botânica do Paraguai denominou-a de Stevia rebaudiana Bertoni.
A partir de então a atenção e o interesse sobre a Stevia foi crescente. Mesmo naquela época, Bertoni já apregoava a possibilidade de industrializar as folhas da planta para substituir a sacarina, como adoçante. A produção agrícola iniciou-se com o próprio Bertoni, que incumbiu a Sra. Vera Jimenes de cultivar a planta. Foram cultivados 500 exemplares a partir da reprodução da planta progenitora, utilizando-se do processo de produção de mudas por estaquia. Esta produção chegou a atingir 2 hectares de mudas o que gerou a implantação de uma empresa de comercialização das mudas de Stevia.
A partir daí a propagação se intensificou pelo Paraguai e países vizinhos. Dado ao grande interesse despertado sobre a planta o governo paraguaio oficializou a propagação da planta no país já que a produção atingia, na época, cerca de 2000 quilos de folhas por hectare (2, 3). Em 1932, o preço do quilo de folhas era muito alto (cerca de 130 dólares) e com o aumento da produção este preço diminuiu sendo que em 1945 estava próximo de 2 dólares o quilo (4). Atualmente o preço tem sido mantido na faixa de 1 dólar o quilo, dependendo evidentemente da qualidade apresentada pelas folhas.
No começo do século, também no Brasil a Stevia teve destaque científico e tecnológico. A planta tinha ampla distribuição nativa no nosso território e já atraia o interesse dos pesquisadores e agricultores. Como Pio Correia observou, a Stevia rebaudiana, no Brasil ocupava uma vasta área nativa talvez uma maior do que no próprio Paraguai (5). Hoje sabemos que a planta é encontrada nativa também no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em estudos fitogeográficos sobre Stevia rebaudiana, Jabur e Thomaz em 1984, num trabalho realizado na Universidade Estadual de Maringá, encontraram a espécie nativa em focos isolados no arenito do Caiuá, região com solo e clima muito semelhantes à região de origem da planta. A região estudada localiza-se no norte e oeste do Paraná, na bacia do Rio Ivaí e parte da bacia do Rio Paranapanema, na divisa com o Estado de São Paulo. Segundos os pesquisadores esta é uma região potencialmente nativa da planta, pois apresenta todos os requisitos para o seu desenvolvimento. A invasão da Stevia rebaudiana nesta região é recente, pelo fato de que há pouco houve o seu completo desmatamento, transformando-a em campo arenoso. Há ainda nessa região um fator importante para a implantação da espécie, que é o maior nível de umidade do solo devido à densa rede fluvial que corre por todo o arenito do Caiuá.
Desde as primeiras primeiras observações feitas por Ribaudi, estudos sistemáticos vêm sendo realizados em todo o mundo com a finalidade de um aproveitamento racional das propriedades edulcorantes e medicinais da Stevia rebaudiana assim como, na determinação e estrutura química do adoçante.
O princípio edulcorante, um glicosídeo, foi isolado pela primeira vez, por Raenack em 1908, na forma cristalina. Ele obteve um extrato alcoólico das folhas, precipitou este extrato com éter e o produto foi cristalizado com metanol. O isolamento do glicosídeo foi também descrito por Dieterich em 1909, que obteve duas formas do mesmo denominado-as Eupatorina e Rebaudina. Em 1924, por decisão da Union Internacionale de Chimie em Copenhagen, o nome Steviosídeo foi atribuído ao princípio adoçante conforme Bridel e Lavielle em 1931 (2). Na segunda metade da década de 50, a estrutura do steviosídeo foi completamente elucidada como é conhecida atualmente.
Planta Estévia |
O poder edulcorante da Stevia e do princípio ativo foi motivo de vários estudos. Em 1913, baseado numa análise de um laboratório em Hamburgo, Bertoni anunciou o poder edulcorante da substância extraída das folhas de Stevia como sendo mais ou menos 180 vezes mais doce que o açúcar de cana. Em 1931, após o isolamento e identificação do steviosídeo, principal princípio edulcorante da Stevia, Bridel e Lavielle anunciaram um poder edulcorante deste composto como sendo 300 vezes mais doce que o açúcar comum (2). Em 1959, Lawrence e Fergunson publicaram dados obtidos sobre o poder edulcorante do steviosídeo, que ficou estabelecido em cerca de 280 a 300 vezes que o da sacarose em seu limiar de dulçor . |